sexta-feira, 20 de março de 2009

Tenho vontade de fugir para bem longe, desaparecer.Crio histórias com desfechos improváveis.Me sinto imatura, incompleta.

Grande o bastante para fugir, pequena demais pra suportar o viver.

Angustiosamente suportando os dias quentes, sem querer que as horas passem.

Penso em muitas coisas, poucas fazem de fato sentido.Sinto meu estômago embrulhar.E dói,dói.

Igrejas que caem,contas bancárias que engordam,crianças com fome na Mongólia.

O ar de esperança nos enchem os pulmões,me embrulha o estômago.A pouco de vomitar e gritar que não é tudo vão, que não pode ser tudo em vão.Escrevo como se alguém escrevesse por mim.Corto palavras, esqueço letras.Mensagens subliminares.Subversivas.Tenho medo de pô-las no papel.Escrevo rápida e descompassadamente, ocupando o lugar de pregações evangélicas ou receituários médicos, derrubando árvores.Uma ilusão apenas.

Prefiro me abster da palavra que cometer o hedonismo pecador.

Assim como José Saramago e seus cegos ,tomada por uma cegueira branca, leitosa, luminosa.Uma cegueira assim encegada, embaçada,vil.

Uma cegueira humana,verdadeira,decrépita ou assustadoramente viva?

Grito um grito assim abafado.Um grito assim bem alto,no pé do ouvido,grito que quero o direito de errar, o direito de pecar.De cair e levantar.De viver descompassar, desafinar, denegrir,rir,fugir e ...grito!

Grito ocupando o espaço dos átomos,grito assim como se alguém pudesse me ouvir.Como se fosse capaz de gritar;de acreditar.

 

 

 

Tudo parece tão estranho, porque nada saí do lugar?Um quadro torto, me assombra, a bizarrice do destino me faz gritar.

Qual será o próximo ato?

Ajeitar ou não ajeitar o quadro?

Sei que se não levantar e pô-lo em seu devido lugar, não haverá lugar para nada mais em minha cabeça.Obedeço o instinto e  ajeito o quadro.

Tudo é tão complicadamente simples ou vice-versa que tenho medo de pensar.

Um sorriso subitamente brota de meu rosto, é quase que impossível tentar contê-lo.

Teus olhos, tua pele, me fascina.Indescritível o que se passa dentro de minha cabeça, que mais parece um emaranhado de fios ou peças de um quebra-cabeças infinito.

Como é gostoso acompanhar teu riso, um poço mais de tempo não resolveria a situação.Eu sei disso.

Coragem, para enfrentar meus medos , para perdoar, superar magoas e pra pedir perdão.

Desperdiçando minutos preciosos com bobagens sem importância , isso é tão desconfortável, desnecessário.É patética a falta de valor que damos a nossa própria vida.Isso quando sabemos o que é a visa.Na maioria dos casos o que não acontece.

Algo está errado.Só não sei dizer o que de fato me incomoda tanto.Me impressiono com minha capacidade de fingir que tudo vai bem , esse meu ar conciliador.Diplomático, caridoso, me faz mal, me devora, pouco a pouco.

Quanto tempo vai passar até que alguma coisa mude?Queria ter o poder que certas mulheres tem.Tal como o poder de Rita, Clarice,Maria,Katherine e Virginia,como Lee, Maysa, Lispector, Mansfield,Wolf ,Leila.

Por que os garotos sempre dizem não?Impiedosamente cruéis como os sentimentos de menininhas.Desejo que todas as garotas do mundo se tornem meio Leila Diniz aos quinze anos.

Sinto as lágrimas caírem,o ódio cresce rapidamente.Odeio chorar.Chorar, tão vão, tão desnecessário,tão urbano, não trepido.

Imagino como foi que tudo se formou, não compreendo.Nem seria nunca capaz de tal.

Olhando a Lua , o vento soprando,há tempos não tinha tempo de olhar a Lua e pensar em banalidades e problemas passados.

 

Um forte abraço, um beijo e um sentimento selador que conforta.Inexplicavelmente inebriada com o gosto de tua boca , com o tocar de lábios,abrir de bocas, tocar de mãos, Sentimento de dormência, cheiro de vida real.

Meu sangue ferve...Como?O que está a acontecer?Sinto agulhas penetrando-me por todo o corpo, a dor que agrada.

Uma sede,ah, isso é patético, o que esta  acontecendo?Algo que jamais voltei a sentir.

A quente escuridão noturna daquele dia me excitava, me impelia o melhor que havia em mim mesmo.A mais prazerosa de todas as sensações existentes.O mundo girava em torno do que sentia, só de pensar nesse simples fato fazia brotar de meus lábios um sorriso.

Aproveitando cada minuto desta nova sensação de total liberdade, sem mais nada que me prenda ,sem mais explicações, sem mais garotos, pais ou estado, sem preocupações banalmente hipócritas ou inexistentes.E é isso que realmente importava.

A partir daquele dia nada mais dói como antes.Mariana morreu.Simples.Sem mais explicações.

Virginia.

Agora tudo fazia sentido, já não mais importava a dor inicial ou as ridículas indagações que obviamente não seriam explicadas.

Aquela pobre garotinha ingênua, que chorava escondida pelos cantos escuros, a mesma que sempre tivera medos dos tão assustadores garotos.A pobre Mariana deixava de existir.Repetia em voz alta tudo isso para que nada se perdesse e a fim de que acreditasse de fato no estava a acontecer.

Finalmente era a hora de fazê-los pagar.Sim todos eles.

A implacável fúria mantida por tanto tempo trancada, acaba de ser libertada por alguém que realmente sabia o que fazia e o que dizia,mas não o que sentia.

O ódio tomava o coração se é que ela ainda o mantinha,o ódio lhe fazia enxergar melhor.Era o que acreditava piamente Virginia.Nada mais precisava ser explicado.Quase nada.

 

Não faria diferença se iniciássemos nossa narrativa, dissertação, memórias, autos seja o que for que estejamos começando, do começo.O que realmente nos importa é o que aconteceu depois.Depois?Sim. Depois do inicio, antes do final.

 

Aqueles olhos penetrantes de uma cor que jamais vira antes,cor essa que não seria capaz de nomear , descrever.Aqueles olhos , esses olhos ainda a observavam, como um sorriso capaz de realizar qualquer desejo.Hum tal sorriso que ficaria gravado em minha memória por tempos indizíveis.

 

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