sexta-feira, 20 de março de 2009

O Infinito ao meu redor


Os dias passam e as coisas não mudam.Ela perde dia á dia a vontade de escrever de ler de aprender , de viver.E sente.

Pensa que se parasse de sentir podia ser melhor.Não é.

Ela sente e sabe que uma hora tudo acaba e ela não mais conseguirá se esconder.

Diz palavras sem sentido.

Ultimamente as coisas têm sido pouco piores se é que isso fosse possível.

Ela tinha medo.Tinha medo.Medo de não sentir.Ela não sentia , senão o que não importava.Sentia tudo quanto fosse banal e trivial, comum e inútil.Nada que fosse de real importância.Por vezes se pegava chorando sem dor.Rindo por fora e gritando por dentro.Acreditava que alguém viria salva-lá,assim mesmo de um mundo distante,mundo em que ninguém jamais tivesse ouvido.Acreditava.E acreditava.

De fato sabia que isso e muitas outras coisas que desejava jamais iriam acontecer, mas acreditava que elas aconteceriam!

Recordava de tempos bons, e ria baixo pelos cantos, ao sentir aqueles tão conhecidos cheiros de antigamente.

Gostava de cheiros.Cheiros á atraiam,e a traiam.Era sensível aos cheiros e principalmente pelos que já conhecia.

Acreditava que podia ser melhor e que a estagnação era só mais um passo rumo a evolução.

Esse silêncio, produzido por ruídos e antigas musicas, á encantavam.Sentia o que não se podia explicar .

Sentia.Sentia.Não sabia,mas sentia.Quando sentia não cabia em si e então preferia não sentir.Mas sentia.Sempre sentiu e não percebia que sentia,não ousava pensar em coisas tão absurdas.

Ouvia musicas que a induziam a pensar e pensar a deprimia.

Ela estava sumindo,sentia que estava deixando de existir em frente de a uma máquina de  escrever.As palavras sumiam de seu vocabulário.Gostava do sotaque que ele tinha.Gostava de sua voz, do jeito de como ele falava.

Ele?Sim.Ele.

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .... ... ... .... .... ... Tinha medo e evitava pensar.... ... ... ... ... ... ... .... ... ... .. ...pensar a levaria a destruição... ... ... ... ... ... ... ... ...e não pensar idem... ... ... ... ... ... ... .... ... não tinha lágrimas nem vontade de chorar.

Inspiração de suas palavras:ela mesma.

Precisava parar ouvir musica,precisava parar de viver pra dentro : de escrever , ler , ouvir musica, precisava.Não!Ela absolutamente não gostava de ter que precisar e então não precisava, precisar.

Sentia que nada mais fazia sentido ,outra vez sentiu, mais ,mais um pedacinho de si que se esvai.

Fotos em preto em branco,barquinhos flutuando pelo mar, e o pôr do sol, a bossa ao fundo e a lembrança de uma noite num bar á meia luz e de uma tal canção.Outra vez não sente nada ao lembrar disso, que supostamente devia lhe importar.

Carros passam por ela , a noite chega e ela não percebe que mais um dia se foi , sem que ela deixe de pensar.Ela não pensa.Ela pensa demais em coisas sem importância.

Quase como uma obsessão segue sua rotina.

O relógio desperta, ela não.Como num susto ,acorda e percebe que está atrasada, nenhuma novidade.

Levanta.Se apronta.Corre a estação,compra seu bilhete e se vai, o trajeto é longo, e sempre que pode lê um livro.Trabalha e sempre se encanta com as mesmas coisas,uma loja de cd´s ,perto donde trabalha.Com uma livraria e um certo livro que deseja ter.Os dias de trabalho eram  sempre cansativos, porém, não longos, quase não vê a hora passar e prefere não olhar o relógio.Sempre que olha , os minutos demoram mais e mais para passar.

Cansada ,sozinha e deprimida , o dia de trabalho foi bom, era o que se podia esperar de uma jovem inexperiente.Devia sentir-se orgulhosa.Não se sentia.

Conta moedas para comprar algo para comer, é fim de mês e sabe que não pode gastar mais nem um centavo, as contas se acumulam e já não sabe o que fazer para que isso mude.Mas prefere não pensar nisso nem em nada.Torce para que o metrô não esteja muito lotado, para prosseguir sua tão querida leitura.O livro?Nehum clássico,não era o melhor que já havia lido, porém um dos mais contagiantes, como todos os outros ela já não conseguia parar de ler e mesmo longe dele parar de pensar em sua continuidade.Quase como uma obsessão.

Sua capacidade de comunicação diminuía a casa dia.Ela não sabia disso.Pelo contrário se orgulhava de sua grande dicção e poder oratória.

Volta pra casa.Lembra que esqueceu do pão.

Há três meses decidiu que largaria tudo e todos e moraria sozinha , como sempre quis.Economizou centavo a centavo para alugar uma cabana de cimento com uma sala , uma cozinha e um banheiro.

Em sua humilde morada haviam:seus livros , seus discos , seus brinquedos,não os antigos, que por azar e grande raiva interior havia destruído ao longo de sua vida,uma tv e um aparelho de dvd, muitos filmes,desenhos, postêrs , fotos de amigos e de artistas famosos e antigos,caixas, caixas e mais caixas.Caixa para as cartas de amigos, e antigos amores.Caixa das decepções, ali eram guardados todos os seus antigos objetos destruídos ou gravemente deteriorados, como um bibelô que um primo chato numa festa de fim de ano quebrou e que ela tanto gostava.

Sua cama , seu guarda-roupa mais algumas coisa de importância vital como uma geladeira velha que pertenceu a sua vó e que também foi de sua tia que comprou uma nova e que a generosamente á presenteou tão estimadamente.Seu computador.

Chegou em casa cansada e faminta, abriu a geladeira e descobriu que não havia nada para comer além dos pães da semana passada que já estavam duros, mas que felizmente ainda não estavam embolorados,tomou banho , e ficou feliz por comer torradas, sempre se divertia quando ia pra cozinha.Não que não gostasse de cozinhar,ela era só um pouco desastrada.Achava-se engraçada, mas não dividia seus pensamentos e sentimentos com ninguém.

A maior parte do tempo que ela passava em casa ou estava lendo ou vendo filmes o que agora acontecia raramente ou como a grande parte das vezes acontecia escrevendo e ouvindo músicas.!

Sempre as mesmas musicam.

Já não ouvia seu coração.Não.Tudo parecia distante demais para que a preocupasse,sentia-se cada vez menos sensível.Tinha medo de deixar de existir ninguém perceber.

Cada carta que ela não recebia, cada telefonema que não atendia, cada amigo que não recebia , cada doce que comia, cada palavra que não dizia, cada lágrima que não chorava, cada riso que não se permitia, cada alegria que não sentia , cada busca que não era sua, cada vez sentia-se mais perto dele.

Daquele que a viria salvar.Daquele que ela já amava e que também a amaria.Tão mais perto estava que por quase um minuto deixava de respirar.

Contava os minutos para que um novo dia começasse e para que algo em sua vida mudasse,não esporadicamente falando.E sim, que ele a encontrasse.Por que ela não estava procurando seu príncipe encantado.Não.

Ela não acreditava nessas besteiras, ela sabia que isso não existia.Mas, acreditava que ele a encontraria.E ele iria encontrá-la.

Em um dia chuvoso em que tudo havia dado errado, ao passar por uma rua erma e escura, escutou finos latidos.Um filhotinho estava preso na calha d´água de uma casa.Ela não se conteve e muito se esforçou para salvar o filhotinho.E era lindo.Ela o tirou de lá,por fim estavam os dois, ela e o cachorro cheios de lama, e muito molhados, ela o levou pra casa, seu nome Johnny!

Seu novo amiguinho era além de muito carinhoso, brincalhão.Freqüentemente ela sentia-se culpada por não passar tanto tempo com seu novo amigo.mas fazia seu melhor.

Ao que parece ela era bem solitária.Porém essa não é a verdade.De fato tinha muitos amigos e ele muito estimada por todos, era o que chamamos de popular.

 

 

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